Criatividade e TDAH: estudo revela como o déficit de atenção pode impulsionar ideias originais
Pesquisa europeia aponta que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade pode estar relacionado a níveis mais altos de criatividade.
TDAH e criatividade: o que a ciência descobriu
Uma nova pesquisa apresentada no 38º Congresso Anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP), realizado de 11 a 14 de outubro de 2025, em Amsterdã, revela uma possível ligação entre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e níveis mais elevados de criatividade.
De acordo com os cientistas, a divagação mental — quando a atenção se desvia do foco principal — pode desempenhar um papel essencial nessa conexão entre TDAH e pensamento criativo.
O estudo foi conduzido por Han Fang, do Centro Médico Universitário Radboud, na Holanda, e envolveu 750 participantes da Europa continental e do Reino Unido. É a primeira vez que pesquisadores conseguem explicar de forma consistente a relação entre TDAH e potencial criativo.
Mente que divaga, ideias que florescem
Os participantes foram submetidos a testes de criatividade que incluíam sugerir novos usos para objetos comuns.
Aqueles com traços mais intensos de TDAH, como impulsividade, desatenção e dificuldade de foco, apresentaram maior tendência à divagação mental e obtiveram melhores resultados em tarefas criativas, especialmente quando conseguiam direcionar conscientemente o pensamento.
A pesquisa identificou dois tipos de divagação mental:
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Espontânea — quando a atenção se dispersa involuntariamente;
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Deliberada — quando a pessoa escolhe permitir que os pensamentos sigam caminhos alternativos.
Segundo Fang:
"A divagação mental deliberada parece ajudar as pessoas com TDAH a transformar pensamentos soltos em ideias criativas."
Aplicações práticas: o que muda no tratamento do TDAH
Os autores do estudo acreditam que as descobertas podem influenciar novas abordagens terapêuticas e educacionais para o TDAH.
Programas que ensinam pessoas com o transtorno a canalizar a criatividade espontânea podem ajudar a transformar dispersão em produtividade e inovação.
Os pesquisadores também destacam o papel do mindfulness — prática de atenção plena que treina o foco e a consciência do momento presente — como um possível aliado no tratamento do TDAH.
Práticas de atenção plena, adaptadas a esse perfil cognitivo, podem reduzir a divagação não intencional e fortalecer o equilíbrio entre foco e criatividade.
O que é o TDAH e como ele se manifesta
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica de origem genética, geralmente identificada ainda na infância.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o TDAH afeta de 3% a 5% das crianças e até 2,5% dos adultos em todo o mundo.
Os principais sintomas incluem:
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Desatenção e distração frequente
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Dificuldade de organização
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Impulsividade e inquietude constante
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Procrastinação e esquecimento de tarefas
Embora não tenha cura, o TDAH pode ser tratado com psicoterapia, medicamentos e mudanças comportamentais, possibilitando uma vida equilibrada e funcional.
TDAH em adultos: sintomas e desafios
Pesquisas mostram que o TDAH persiste na vida adulta em até 70% dos casos diagnosticados na infância.
Entre os principais sintomas observados estão:
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Dificuldade para manter a concentração;
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Tomadas de decisão impulsivas;
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Mudanças constantes de foco ou de emprego;
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Problemas de relacionamento e autoestima;
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Maior risco de ansiedade e depressão.
O diagnóstico em adultos costuma ocorrer quando o indivíduo já apresenta impactos significativos na rotina profissional e pessoal.
Estratégias para amenizar os sintomas do TDAH
Embora o TDAH seja uma condição crônica, há formas eficazes de amenizar seus sintomas e melhorar o desempenho no dia a dia:
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Mantenha hábitos saudáveis — sono de qualidade, boa alimentação e atividade física ajudam a regular o foco e o humor.
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Use ferramentas de organização — agendas e aplicativos são aliados poderosos para planejar rotinas.
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Evite procrastinar — iniciar as tarefas logo que possível ajuda a manter o ritmo.
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Execute uma tarefa de cada vez — dividir grandes projetos em etapas reduz a sobrecarga.
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Inclua pausas conscientes — respiração e técnicas de atenção plena reduzem a agitação mental.
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Busque apoio psicológico e psiquiátrico — a psicoterapia é fundamental para desenvolver estratégias personalizadas e promover o autoconhecimento.
Um novo olhar sobre o TDAH e a criatividade
Os achados do ECNP reforçam que o TDAH não deve ser visto apenas como uma limitação, mas também como uma expressão singular da mente humana — capaz de gerar soluções criativas, pensamento divergente e inovação.
Ao reconhecer o potencial criativo das pessoas com TDAH, a ciência abre espaço para tratamentos mais integrativos e empáticos, que valorizem tanto o foco quanto a originalidade.